quarta-feira, 13 de novembro de 2013

A história da nossa disciplina II

      Hugo Schuchardt (1842-1927), linguista austríaco que se destacou na crítica aos neogramáticos. Tinha uma concepção subjetivista da língua (o falante individual lhe serve de ponto de referência), mas oponde-se ao conceito de lei fonética, despertou a atenção para a imensa gama de variedades da fala existente numa comunidade e como essas variedades se influenciam mutuamente como as línguas em contato, quer pela proximidade geográfica ou em decorrência de invasões etc. Com isso, abriu-se uma trilha fundamental para os estudos posteriores de linguística histórica, a trilha da dialetologia e, mais recentemente, da sociolinguística.
      Mas foi com Antoine Meillet (1866-1936) que uma concepção mais sociológica do falante e da língua encontrou uma formulação mais consistente e sólida. Para Meillet, a língua é um fato social, sendo assim, as condições sociais passaram a ser vistas como tendo uma influência decisiva sobre a língua e sobre sua mudança. 
      "Tout fait de langue manifeste un fait de civilisation" ("Todo fato de língua manifesta um fato de civilização") (MEILLET, Antoine. Linguistique historique et linguistique générale. v. II. Paris: Klincksieck, 1951. p. 168).
      Essa perspectiva sociológica se encontrava também em William  Whitney (1827-1894), linguista norte-americano e Michel Bréal (1832-1945), linguista francês, mas foi com Meillet, sob a influência do destacado sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917), que essa perspectiva obteve uma formulação mais precisa, também foi aplicada com mais consistência ao estudo empírico. Tinha como objetivo a formulação de uma orientação teórica para o estudo da história linguística que incorporasse a sempre heterogênea realidade sociocultural das línguas. Suas reflexões sobre o léxico indo-europeu motivaram o estudo monumental de Émile Beveniste (1902-1976), seu aluno e sucessor.

      Com Saussure, vem o estruturalismo, cuja proposta era abordar qualquer língua como um sistema no qual cada um dos elementos só pode ser definido pelas relações de equivalência ou de oposição que mantém com os demais elementos. Esse conjunto de relações forma a estrutura, daí o estruturalismo. (Google - estruturalismo)

      Em seu projeto teórico, fixou uma rígida separação metodológica entre o estudo dos estados de língua (sincronia) e o estudo da mudança linguística (diacronia). Também estabeleceu a procedência do estudo sincrônico sobre o diacrônico que foram inspirados nos neogramáticos com quem Saussure estudou em Leipzig. O resultado foi um forte impacto sobre como caminhou a linguística do século XX que se tornou hegemonicamente sincrônica, configurando-se numa maneira estruturalista de pensar a mudança.
      Jakobson foi quem primeiro aplicou o princípio da abordagem sistêmica da diacronia, em seu trabalho "Principes de phonologie historique", publicado em 1931. Ele analisou vários casos de mudança fonológica, procurando mostrar empiricamente o significado dessa perspectiva sistêmica. Jakobson desdobrou o princípio em uma série de perguntas orientadoras da sua aplicação, como: ocorreu uma mudança fônica?O que ela alterou no interior do sistema fonológico? Certas diferenças fonológicas se perderam? Quais? etc.
      Em 1955, André Martinet (1908-1999), desenvolveu extensamente essa perspectiva da dinâmica da mudança. Para ele, há uma pressão de forças contraditórias no sistema da língua que, sob o efeito delas, ocorrem mudanças funcionais ou estruturais. Através de vários estudos e exemplos, Martinet exemplifica conceitos e noções impactantes do estruturalismo.
      A contribuição metodológica do estruturalismo para a linguística histórica, introduziu a exigência de que qualquer mudança deve ser sempre analisada sistematicamente situando-a em suas relações com outros elementos da língua antes, durante ou depois da mudança. O fato dos estruturalistas terem reduzido, na prática, toda a dinâmica da mudança a uma questão exclusivamente imanente, como se a mesma fosse uma realidade totalmente autônoma, é uma crítica que se faz. A realidade da mudança está correlacionada com a estrutura e a história social, exigindo uma abordagem mais realista, é o que apontam os estudos de dialetologia e de sociolinguística.
 
                                                                                                    Leila Gonçalves
Fonte: Faraco, Carlos Alberto - Linguística histórica: uma introdução ao estudo da história das línguas/ São Paulo: Parábola Editorial, 2005. Capítulo 5: História da nossa disciplina

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