A linguística como ciência surgiu aproximadamente 200 anos. Podemos dividir esse período em duas
fases: A primeira foi o período da formação e consolidação do método
comparatista. E a segunda foi período de duas grandes linhas interpretativas, o
estruturalismo, onde surgiram os primeiros neogramáticos, acreditavam nas
mudanças da língua com fatores internos (estruturados) e externos (sociais). E
a outra o gerativismo, acredita nas mudanças como um acontecimento que se da no
interior da língua condicionada por fatores da própria língua.
A linguística histórica como ciência não nasceu do nada. Há
milênios pessoas de diferentes sociedades pensaram a questão da linguagem.
Desde o século IV a.C., se tem registro de estudos linguísticos, estudos que
começaram com sábios hindus, passaram
pelos filósofos gregos, pela
filologia dos alexandrinos, pelas
gramáticas gregas e latinas entre outros. E ao longo do tempo os textos antigos
vêm sendo utilizados para os estudos sobre as mudanças da língua.
Os primeiros estudos sobre as línguas de civilizações antigas
iniciaram em meados do século XVIII por intelectuais europeus. O estudo do
sânscrito, língua clássica dos hindus, constatou semelhanças tanto pelas raízes
verbais como pelas formas gramaticais, com o latim e o grego. Na sequência
destes estudos surgiram várias gramáticas e um dicionário de sânscrito.
O método comparatista
Os principais teóricos comparatistas foram os alemães
Friedrich Schlgel (1829) e Franz Boop (18670). O ponto de partida para a
criação do método comparatista foi às pesquisas de Schlegel que em 1808
publicou um texto sobre a língua e a sabedoria dos hindus, nesse texto ele
reforçou a tese de W. Jones sobre o parentesco do sânscrito com o latim, o
grego, o germânico e o persa, semelhanças nas raízes lexicais e principalmente
semelhanças gramaticais.
Tais semelhanças seriam consequência de uma mesma origem, era
preciso comparar as línguas e estabelecer seu parentesco em comum.
Em 1816 Boop publicou um livro sobre o sistema de conjugação
do sânscrito em comparação com o da língua grega, latina, persa e germânica.
Essa comparação mostrou de forma detalhada a morfologia de cada língua e as
correspondências sistemáticas que havia entre elas. Fundamento para se revelar
empiricamente o seu parentesco. Os estudos de Boop não ocorram utilizando dados
em ordem cronológica e sim aleatória.
O método comparatista é um processo central nos estudos da
linguística histórica, é por meio dele que se estabelece o parentesco entre as
línguas. Os principais teóricos e
fatores que colaboraram para o desenvolvimento desse método foram:
Jacob Grimm foi o primeiro a estabelecer estudos históricos,
de um estágio anterior para outro posterior.
Grimm interpretou a existência de correspondente fonética
sistemáticas entre as línguas como resultado de mutação no tempo. A partir dos
estudos de Grimm ficou clara a regularidade dos processos de mudanças
linguísticas.
O linguista dinamarquês Ramus Rask (1832) desenvolveu trabalhos
comparativos importantes envolvendo as línguas germânicas, o grego, o latim e o
lituano. Esse estudo teve pouca repercussão apesar de metodologicamente
exemplar.
A filologia românica foi muito importante para o
desenvolvimento dos estudos históricos – comparativos. Na subfamília românica a
documentação em latim e extensa, o que permitiu um importante refinamento
metodológico dos estudos históricos.
August Schleicher (1868) influenciado pelas ideias
naturalistas- teoria da evolução, Darwin - formulou uma concepção que tomava a
língua como um organismo vivo que nascia se desenvolveria e se extinguiria.
O surgimento dos neogramáticos
Na segunda metade do século XIX, surgiu uma nova geração de
linguistas, os neogramáticos, relacionados com a Universidade de Leipzig-
Alemanha. Eles questionavam certos pressupostos tradicionais da pratica
histórico – comparativa.
Os neogramáticos foram
um divisor de águas na linguística histórica.
Hermann Osthoff (1909) e Karl Brugmann (1919) publicaram em
1878 ”O manifesto neogramático”, nele eles critica a concepção naturalista da
língua, que a via como possuindo uma existência independente. Para eles a
língua tinha que ser vista ligada ao falante, a língua existia no indivíduo, e
as mudanças se originam neles. Defendiam a necessidade de a linguística
histórica manter relações estreitas com a psicologia. Interessavam – se em
investigar os mecanismos da mudança e não apenas reconstruir estágios remotos
da língua. Acreditavam que na língua sempre
se processam transformações, e elas são inevitáveis.
Em 1880 foi publicado o livro “Princípios fundamentais da
história da língua” de Paul Hermann (1921), era uma espécie de manual do
pensamento neogramático e foi referência para a afirmação dos diacronistas do
século XX. Paul negava a existência de uma linguística que não fosse
histórica. Propunha uma diretriz para a mudança da língua que fosse além da
observação dos fatos, deveria expor mais universalmente possível as condições
da língua, e que os resultados deveriam ser aplicáveis a todas as línguas. Paul acreditava que os princípios fundamentais da mudança se
dava nos fatores psíquicos e físicos
tomados como fatores culturais. Para ele o linguista só precisava de duas
ciências a psicologia e a filosofia para aprender a realidade das mutações da
língua. A fonte de toda mudança linguística era o falante individual, essa
mudança se dava pelo que Paul chamava de ação recíproca dos indivíduos.
A crítica aos
neogramáticos
Desde o início as formulações dos neogramáticos provocaram a
crítica de vários linguistas. O centro da polêmica foi o conceito de lei da
fonética, compreendida como um princípio imanente de aplicação cega e sem
exceções. Os linguistas que se opunham aos neogramáticos não aceitavam o
caráter categórico das leis fonéticas, isto é, não aceitavam que as mudanças se
espalhassem por toda a comunidade e por todos os itens lexicais de modo
totalmente uniforme.
Se destaca nessa crítica aos neogramáticos o austríaco Hugo
Schuchardt (1927), esse linguista ao se opor ao conceito de lei fonética,
chamou a atenção para a imensa gama de variedades da fala existentes numa
comunidade qualquer, variedades essa condicionadas por fatores como o sexo, as línguas em contato(quer por invasão,
conquistas e intercruzamento étnicos e culturais ou por aproximação
geográfica)a idade e o nível de escolaridade do falante. Foi considerando esse quadro heterogêneo que Schuchardt
buscou compreender o processo de mudanças das línguas.
Ariana
Fonte: Faraco, Carlos Alberto - Linguística histórica: uma introdução ao estudo da história das línguas/ São Paulo: Parábola Editorial, 2005. Capítulo 5: História da nossa disciplina.
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