quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Características da mudança

      A primeira característica é que a mudança se dá em todas as línguas. É próprio de todas elas passar por transformações no correr do tempo. Dessa maneira, se o português do século XIII era diferente do português de hoje, o português do futuro será diferente do português de hoje: entre eles há um ininterrupto processo de mudança. Se uma língua deixar de ser falada, ela não conhecerá mais, por isso mesmo, mudanças. O desaparecimento de uma língua é resultado do desaparecimento da própria sociedade que a fala. Mas, embora se possa dizer que o latim está há muito extinto, o fluxo histórico nunca se interrompeu: houve um longo, complexo e, principalmente, ininterrupto processo histórico de transformações do latim que resultou nas diferentes línguas românicas.
     O que deve ficar claro, é que se, de um lado, a mudança linguística é contínua, ela é, por outro lado, lenta e gradual, isto é, a mudança nunca se dá abruptamente, do dia para a noite. Há sempre, no processo histórico, períodos de coexistência e concorrência das formas em variação até a vitória de uma língua sobre a outra. Costuma-se justificar a lentidão e a gradualidade da mudança linguística com fundamento na necessidade dos falantes de terem a intercomunicação permanentemente garantida. Mudanças abruptas e repentinas são impossíveis, pois, se ocorressem, destruiriam as próprias bases da interação socioverbal.   
     A história das línguas é dividida em períodos. Estas divisões são cortes arbitrários. Se compararmos os registros do português do século XIII com aqueles do século XVII, por exemplo, notam-se diferenças que justificam, para efeitos de análise, uma divisão da história em períodos.
     Outro aspecto que caracteriza a mudança linguística é a sua regularidade. Observada na mudança linguística, essa regularidade nos permite estabelecer correspondências sistemáticas entre duas ou mais línguas ou entre dois ou mais estágios da mesma língua, tornando assim possível a reconstituição da história. Exemplo: clamare (latim), llamar (espanhol), chamar (português). Deve ficar claro que essa regularidade nunca deve ser entendida como absoluta.
     Estudos empíricos, no presente e no passado, veem sugerindo que fatores sociais têm influência direta ou indireta nos processos de mudança das línguas. Desse modo, não parece adequado tratar a língua como uma realidade autônoma, imune à história de seus falantes. Isso não significa entender a mudança como mecanicamente determinada por mudanças sociais; mas sim, que as mudanças sociais - ao alterar as relações internacionais - podem, por isso, desencadear processos de mudança na língua.
     Os falantes que não conhecem linguística, ao desenvolverem consciência de mudanças em sua língua, tendem, muitas vezes, a desenvolver paralelamente uma atitude negativa em relação a elas, entendendo-as como uma espécie de decadência: a mudança estaria empobrecendo a língua, degenerando-a, transformando-a para pior. Outros, ao contrário, acreditando que mudança significa simplificação, tendem a desenvolver uma atitude positiva diante das mudanças, achando que a língua de hoje, por ser aparentemente mais simples, e portanto, mais "prática", é melhor que a do passado. Hoje, não se entende mudança linguística nem como progresso, nem como degeneração, mas sim como um processo de mudanças graduais e coerentes.
     Concluindo: a mudança é contínua, lenta, gradual (não discreta) e relativamente regular. Ele emerge da realidade heterogênea das línguas, estando, portanto, correlacionada com complexos processos sociais e culturais.

                                                                                                 Hágda 
Fonte: Faraco, Carlos Alberto - Linguística histórica: uma introdução ao estudo da história das línguas/ São Paulo: Parábola Editorial, 2005. Capítulo 3: As características  da mudança


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